Um homem magro, alto, de sobretudo e têz clara, apressado e sem expressão entrou na farmácia São Patrício. O balconista baixo, de face saliente e barriga idem o olhou com firmeza. O homem fez um semicírculo com os olhos observando o interior do estabelecimento e, batendo uma palma na outra como quem diz “pois então”, disse:
Eu quero uma pomada.
O balconista continuou olhando fixamente o visitante.
É pro pescoço.
O homem estranhando a inércia do atendente bate o com o punho fechado sob o tampo do balcão.
Não é esse o sinal. Diz o balconista olhando para os lados.
Quê?
O sinal não é esse.
Mas que sinal?
Como assim, que sinal? O sinal que você deveria emitir depois de fazer o pedido.
Eu quero uma pomada.
Sim. E depois?
Quero ir embora!
Não pode.
Como não pode!? Tá, chega. Vai me atender ou não?
Ao menos diga a frase de comando.
Pitchu galera.
Pára de palhaçada!
Pára você de palhaçada. Vá se ferrar! Vou na farmácia da outra rua.
Barulhos vindos da parte superior fazem ambos pararem a discussão.
Pschiiiii. Fez o balconista levantando o indicador no próprio lábio. – É o irlandês.
Que irland…
Pschiiii!
Que irlandês?
O maluco.
Alguém mete o pé na porta da farmácia e a abre violentamente. Tem em mãos uma metralhadora. O balconista e o homem levantam os braços.
Ah, rá! Te peguei, Dimitri…
Droga, viu o que você fez!? – Disse o balconista para o homem.
O que eu fiz? Não tô entendendo nada!
Parem de brigar, seus dois traidores de meia-tigela. Me dêem a bula logo e prometo uma morte honrosa, com os miolos dos dois em exposição nessa espelunca.
Vai, entrega pra ele. E prepare-se para sofrer. O balconista aperta os olhos e vira a cara.
Entregar o quê? – O homem não sabia o que fazer.
O teto desaba. Um sujeito grande e de barba vermelha cai por cima do cara com a metralhadora. Tem uma caneca de chope em mãos. Levantando e abanando a sujeira de cimento e madeira e fuligem, brada:
Viva!
…
É o irlandês maluco.
É… Percebi.
Isso é uma conspiração. Não precisa fazer sentido.
Aliás, você nunca leu isso antes… Certo?